sexta-feira, 21 de agosto de 2009

A Mística como caminho para a vida

O texto é extenso, mas acho que vale a pena lê-lo.

E conhecereis a verdade, e verdade vos libertará”.

Acredito que existem dois caminhos para nossa vida cristã. Caminhos que podem parecer antagônicos, mas que para os cristãos estes caminhos devem se encontrar.

O que são estes caminhos:

  1. A Razão ou conhecimento
  2. Experiência Mística

Estes dois caminhos ficaram bem definidos num período da história chamado Idade Média.

Quem tinha o poder, detinha todo conhecimento. A relação entre poder e conhecimento está obscurecida até hoje, pois para manter o controle sobre as pessoas, sem necessidade de justificativa, evita-se o acesso ao conhecimento.

Dessa maneira, a Igreja Cristã no ocidente mantinha o controle econômico e religioso. Suas celebrações aconteciam numa língua, o latim, desconhecida pela grande massa de pessoas, o líder religioso ficava de costas para a congregação e a Igreja fazia questão de manter a hierarquia, consequentemente, a distância da verdade, ou seja, o acesso ao conhecimento.

Diante de um cenário desfavorável desse, como o povo poderia encontrar ou conhecer a mensagem de Jesus? A resposta para esta questão está na mística. Sem acesso ao conhecimento, outro tipo de conhecimento surgia, o conhecimento sobrenatural e a comunhão – união – com o Mistério. Um relacionamento pessoal com o Deus de Jesus, algo que, aparentemente, nenhum conhecimento eclesial poderia dar.

Está claro que, durante muito tempo, esses dois caminhos andavam em direções opostas; um visava domínio e poder, e outro um distanciamento da realidade sofrida e da impossibilidade de alcançar a Deus somente pela letra.

Em nossos dias, tempo do empirismo, ou da certeza pelo a experimentação dos fenômenos observados, de que maneira podemos unir o conhecimento com nossa experiência religiosa, a nossa mística.

Na verdade, a pergunta deveria ser, para que desejamos entender, uma vez que já sentimos a Deus numa relação íntima, subjetiva e pessoal.

Já ouvi muitas criticas ao pensamento teológico, ou ao fazer teologia. Mas precisamos compreender o que foi dito a respeito de Deus e Jesus de Nazaré, Seu Filho.

Parece que o próprio Mestre nós diz isso: “E conhecereis a verdade”, não é só sentir, é conhecer. Apreender, com nossa limitada compreensão, as experiências que vivemos com nosso Pai, para que essas experiências proporcionem atitudes dos frutos do Espírito. Como nos diz Paulo, o Apóstolo, em Gálatas 5:22-23.

A beleza de nossa tentativa em entender os efeitos da mística em nossas vidas, é que ela produz frutos. Esses frutos são verticais, na direção de Deus e, muito mais, horizontais, na direção do outro. A segunda dimensão é uma prova de fogo para nossas experiências com o Sagrado, pois todo relacionamento intimo com Deus e Pai de Jesus deve levar-nos a amar mais, sermos alegres, possuirmos paz, produzir paciência, sermos bons e desenvolvermos fé. Ficaram nítidas as duas dimensões na descrição paulina aos Gálatas.

Mas como tudo isso pode afetar a Igreja hoje. Como unimos caminhos tão “distintos”? Como a Igreja responde as experiências que vivem na dimensão sobrenatural?

Acredito que o conhecimento sem Mistério é pura ciência e a mística sem reflexão é alienação ou fundamentalismo.

Na verdade, penso que as experiências com Deus trazem significado a nossa vida, dão significado as nossas ações, nossos pensamentos e nossos relacionamentos. Damos essa dimensão em nossas vidas, porque entendemos que fazemos com e para Deus.

Nada melhor que um texto das sagradas escrituras para ilustrar o que estou dizendo.

Nos capítulos finais do evangelho de Lucas, especificamente no capítulo 24 versos 13 até 35, existe a história dois homens que estavam caminhando, racionalizando o que estava acontecendo nos últimos dias em Jerusalém, quando de repente acontece uma experiência religiosa. O próprio Jesus foi se relacionar com eles.

O que chama atenção é o fato dos três estarem refletindo e “teologizando” sobre a história de Israel e dando significado ao que eles estavam vivendo naquele momento.

Juntos, o conhecimento, através do debate sobre Jesus e Sua história e a experiência mística, corações aquecidos, vai dando sentido a suas vidas e apontando a direção do futuro-presente que se iniciava.

Logo, aprendemos que devemos viver no céu com os pés aqui na Terra. Fazer de nossas experiências com Deus a estrada pela qual nosso conhecimento e o culto racional vão trilhar.

Termino citando o Bispo Anselmo, de Cantuária:

“Não busco entender para crer, mas creio para entender”.

Até para um grande pensador cristão como bispo citado, acredita que os caminhos possuem um ponto de convergência. Lutemos para nos ajustarmos a ele.



Ao Pai de Jesus seja todo glória.


Um comentário:

  1. Condordo plenamente com você, meu irmão. Hoje muitas igrejas dão ênfase ao místico, arrebanham muitos fiéis por causa disso, mas pela falta de conhecimento teológico, esses fiéis sinceros são facilmente manipulados. Eu mesmo já fui um destes e hoje, com o pouco de teologia que aprendi inclusive com você, minha fé em Cristo tem feito muito mais sentido, sem exageros, sem fanatismo, sem rédeas religiosas. Glória ao Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo!

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